Pernambuco

Meio Ambiente

Encontro no Recife tenta atrair juventude para debate ambiental

Evento fez parte da Conferência Brasileira de Mudança no Clima

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O encontro fez parte da programação da Conferência Brasileira de Mudança do Clima
O encontro fez parte da programação da Conferência Brasileira de Mudança do Clima - Youth Climate Leaders

Na manhã desta quinta-feira (7) ativistas ambientais participaram, no espaço Sinspire, na Praça do Arsenal, bairro do Recife, do Encontro Internacional sobre Clima e Juventude, com o desafio de pensar como envolver mais a juventude no debate da mudança climática no planeta. Os organizadores avaliam que o envolvimento de jovens brasileiros no tema é tímido, enquanto no mundo a pauta é colocada como "a questão global mais importante" para 48% dos jovens participantes de pesquisa do Fórum Econômico Mundial.
O encontro na capital pernambucana contou com lideranças jovens brasileiros, chilenos, alemães e ingleses. Participaram a alemã Rebecca Freitag, delegada-jovem da ONU sobre sustentabilidade; a cônsul-geral da Alemanha no Recife; a paraguaia Joyce Mendez ; e a brasileira Alice Amorim. Uma das participantes foi Nayara Almeida, ativista brasileira da "Fridays For Future", campanha internacional liderada pela adolescente sueca Greta Thunberg para chamar atenção sobre as mudanças climáticas.
Na mesa que reuniu três liderançcas nacionais sobre as "Perspectivas Brasileiras sobre ativismo Jovem e Climático", o pernambucano Igor Vieira, da organização não-governamental Engajamundo, destacou as possibilidades de uma atuação mais sólida dos jovens brasileiros na pauta ambiental. "Hoje os jovens somos estudantes e profissionais de diversas áreas, com grande pluralidade de conhecimento. E estamos articulados dentro da sociedade em vários locais e grupos com pautas do desenvolvimento social. Mas precisamos tomar essa pauta do clima como responsabilidade nossa, porque está na juventude a ousadia para mudar as coisas", avaliou.
Igor Vieira considera que os jovens estão conscientes dos impactos do desenvolvimento que não leva em consideração a população e a natureza. "Olhando para o Recife é fácil perceber. O desenvolvimento da cidade sempre foi para facilitar a vida das pessoas mais ricas. Essa forma de desenvolvimento deixa muita gente sem acesso a moradia digna e dá as costas para os nossos rios", se queixa. Para ele, apesar de a pauta ser mundial, o papel dessa juventude é incidir nos governos locais, dos municípios e estados, onde há grandes focos de juventude e as pautas são mais fáceis de visualizar concretamente.
A internacionalista Cássia Oliveira Moraes, da organização Youth Climate Leaders (jovens líderes climáticos), avaliou que parte da população não se considera parte dos problemas ambientais. "É estranho como para esse formato de sociedade, o que é essencial não é prioridade. É como se tivéssemos uma casa e comprássemos a TV antes de comprar comida", comparou. "Precisamos olhar para trás, entender a nossa essência, avaliar o que é mais importante e mudarmos algo na nossa vida, nas nossas escolhas", sugeriu.
A estudante Suzana Santos, ativista do coletivo CaraPreta, provocou os presentes sobre como a juventude brasileira, em sua maioria negra e periférica, poderia priorizar pautas de médio e longo prazo como a climática, se não têm garantidas questões básicas e imediatas relativas à própria sobreviência. A avaliação teve concordância da mesa, com endosso da mediadora, Karina Penha, afirmando ser comum estar em espaços de debate climático em que ela é a única pessoa negra.
O geógrafo indígena Mirin Ju Yan Guarani destacou que a questão climática não é o centro do debate, "mas um fenômeno que abrange todos os debates". Para ele, o problema é de modelo econômico e sociocultural e esses também são os fatores que impedem maior envolvimento da população nas mobilizações. "A dificuldade do povo brasileiro se mobilizar nas articulações e greves é porque o povo dos países que sofreram colonização somos reféns do mercado de trabalho. Se eu não trabalhar hoje, serei demitido, não consigo outro emprego e vai faltar comida para a minha família. Não vamos poder pagar para ter onde morar. Somos reféns", reforçou.
Yan também defendeu modelos de atuação organizada diferentes dos hegemônicos para resistir diante do cenário adverso. "A formação do Estado obedece uma lógica de dominação. Os nossos direitos, que até estão na Constituição, eles foram transformados em produtos. Para ter casa, tenho que pagar; para ter comida, tenho que comprar; tudo é mercadoria. O Estado não está se importando em suprir nossas necessidades", inicia.
"Então temos que cobrar, mas precisamos cuidar de nós enquanto comunidade, enquanto povo que somos", defende. "Esse governo que está aí, a política de Meio Ambiente deles é assumidamente pró-agronegócio. Como é que podemos esperar que eles façam algo por nós? Tem que ser o povo mesmo", completou, convocando os presentes a uma maior unidade de ações e solidariedade entre si.
Presente no evento, o deputado federal pernambucano Túlio Gadêlha (PDT), classificou como "retrocesso absurdo" a política ambiental do governo Bolsonaro, mas também falou de uma grande queimada que desde segunda-feira (4) atinge a caatinga no sertão pernambucano. Ele também destacou o boicote do Governo Federal em relação ao Nordeste.
Túlio defendeu, ainda, que a falta de prioridade das questões ambientais podem trazer graves impactos econômicos ao país. "Somos um país exportador de commodities (matéria-prima), que depende fundamentalmente da natureza", pontuou. Para ele, as organizações precisam ser mais flexíveis para compreender os diversos desejos de atuação. "Ser omisso não é mais uma opção. Mas precisamos compreender como cada pessoa quer participar. Tem gente que quer discutir os temas para entender melhor; já tem outras que não têm essa paciência, mas querem realizar ações concretas de maneira rápida", disse.
O deputado também pediu uma reflexão sobre como o Brasil chegou ao ponto atual, elegendo Jair Bolsonaro, que o pedetista considera "racista, homofóbico, xenofóbico, misógino". "O que aconteceu com a população brasileira? Será que mais da metade do nosso povo tem essas mesmas características?", provocou. "Talvez tenhamos errado na comunicação, na forma de apresentar nossas questões. Os setores que detém um conhecimento, frequentemente usamos esse conhecimento de forma arrogante no trato com as pessoas", avalia.
O Diálogos Futuro Sustentável é um ciclo de debates permanente promovido pela Embaixada da Alemanha no Brasil e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), sem qualquer apoio do Governo Federal. O evento no Recife teve ainda a contribuição do Centro Cultural Brasil-Alemanha (CBA). O encontro fez parte da programação da Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC), que teve início nessa quarta-feira (6), no Recife. Na abertura estiveram presentes lideranças indígenas, como Valéria Paye (da Coiab) e de organizações ambientalistas.
Também participaram da abertura gestores públicos do Nordeste - a exemplo do prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), além dos governadores de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); da Paraíba, João Azevedo (PSB); do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT); do Piauí, Wellington Dias (PT); do Ceará, Camilo Santana (PT); e de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD); além dos vice governadores da Bahia, João Leão (PP); e do Maranhão, Carlos Brandão Junior (PR).

Edição: Marcos Barbosa