Paraná

Julho das Pretas

Artigo | Classe, gênero e raça

É impossível dissociar a realidade vivida por mulheres negras e a perversa vulnerabilidade social a que estão submetida

Curitiba (PR) |
Políticas públicas racistas e machistas resultam em consequências cruéis para as mulheres negras que pagam com a própria vida
Políticas públicas racistas e machistas resultam em consequências cruéis para as mulheres negras que pagam com a própria vida - Giorgia Prates

No Paraná, o mês de Julho terá uma intensa programação. Serão palestras, rodas de conversa, cine debate, lançamento de livros, marcha das mulheres negras e outras atividades, que visam expor a necessidade de compreensão da sociedade sobre a dinâmica cruel das duas formas de discriminação que mulheres negras enfrentam no país: o racismo e o sexismo.

É impossível dissociar a realidade vivida por mulheres negras e a perversa vulnerabilidade social a que estão submetidas no Brasil, no triângulo raça, classe e gênero, que se explicita nos índices de assassinato das mulheres negras.

Nesse breve período de 129 anos após o fim da escravidão, houve poucos avanços em políticas públicas para uma ampla conscientização antirracista que se faz fundamental para acabar com o racismo e positivar a presença das mulheres negras na sociedade. A falta dessas políticas também acentua a condição subalterna e passível de objetificação.

Os índices evidenciam a brutal desigualdade que atinge negros e negras até na hora da morte, e a desigualdade substancial vivida pelas mulheres negras, uma vez que políticas racistas e machistas, de criminalização do aborto, como a PEC 181 e o estatuto do nascituro, mais o descaso com as políticas já implementadas contra a violência doméstica, por exemplo, resultam em consequências cruéis para as mulheres negras que pagam com a própria vida.

Medidas nefastas como a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceirização, aprovadas em 2017 pelo ilegítimo Temer, validam o direcionamento das mulheres negras aos postos precarizados de trabalho, como os serviços gerais e o trabalho doméstico.

Temos portanto, inúmeros desafios enquanto mulheres negras. Denunciar o racismo e machismo institucional do Estado brasileiro, denunciar as políticas reacionárias que nos atingem e lutar por um real estado democrático e de direitos. Nosso lema este ano é Direitos importam! Pretas no Poder!

Ana Carolina Dartora é Mestre em Educação (UFPR), Feminista Negra, Militante da Marcha Mundial de Mulheres 

Edição: Laís Melo